Apesar de termos estudado bastante e ainda continuamente
estamos estudando, deveríamos ter mais tempo - senão como aplicar o
conhecimento?
Ou, como ter mais tempo para saber tudo que deveríamos
saber?
Ou, por outro lado, também as ferramentas estão cada vez
mais potentes e fáceis de usar e por que ainda perdemos tanto tempo
para nos organizar e decidir rapidamente?
Ou, será que não está na hora de revermos o próprio
conceito de tempo?
Nos últimos anos, vários estudos têm sido feitos a respeito de
quanto tempo é desperdiçado em uma organização. Um dos estudos mais
recentes, realizado pela IDC em nome da Adobe, apenas com aspectos
como tratamento de documentos e e-mails, concluiu que os
profissionais da informação podem desperdiçar até 11 horas por
semana, apenas para o tratamento de informações - ou seja, há um
desperdício de 11 horas, não incluindo o tempo que leva para
realmente fazer o trabalho. Isto nos leva a refletir sobre uma das
tantas definições sobre a Gestão do Conhecimento:
Dados são considerados fatos novos, a informação é um
conjunto organizado de dados e por sua vez, conhecimento é
percebido como uma informação com sentido (ALAVI; LEIDNER,
2001; HATT, 2001; WIIG, 2004; ROWLEY, 2007).
Assim, estamos diante de um dilema maior ainda - como
"garimpar conhecimento" e agir rápido em meio a tanta informação
sem sentido aparente?
Embora seja uma citação tendo como base um estudo genérico, fato
é que ainda hoje a maioria das pessoas que trabalham em qualquer
atividade de negócios estão sobrecarregadas com enormes quantidades
de e-mail, sms's, twitters, blog's e por ai vai, mas em muitos
casos, a informação que está em um lugar deve ser checada em muitos
outros lugares para saber de sua validade, como por exemplo,
documentos e contratos referentes a negócios já fechados, ou
propostas já colocadas, e o que é difícil até de lembrar em
linhas gerais, imagine ainda encontrar no arquivo que deveria estar
- tudo isto em um fluxo de trabalho passando em
cada área distinta da empresa, envolvendo vários tipos de
informação, seja em formatos eletrônicos ou físicos, que não são
armazenadas em apenas um único lugar (as vezes ou 2, ou 3,
para o mesmo assunto).
Vejam que uma das áreas consideradas "top" é justamente o
tratamento de grandes volumes de informação - "Big Data", como
passou a ser chamado este conceito, abrangendo tanto dados de forma
estruturada, vindos de meios distintos como bancos de dados em
mainframes, mobile, redes sociais, como também de forma não
estruturada, tais como e-mails, imagens e tudo que não dá para
indexar e correlacionar rapidamente.
Daí surge uma dedução obvia: Não adianta ter um conhecimento
teórico sobre a própria gnose da tecnologia da informação
senão conseguimos ao menos organizar as informações básicas para
tratar nosso dia-a-dia com a velocidade que é exigida nestes tempos
de rápidas mudanças.
Assim como citei o estudo do IDG, poderia ter citado vários
outros, na medida em que há uma abundância de estudos que apontam
todos na mesma direção, afinal sobre este assunto existe muita
informação, também!
Agora passo a me perguntar: Por que não estamos mudando
isso?
Em tipos de negócios tradicionais, chamados "bricks and mortar"
- tijolos e cimento, conotação normalmente dada para onde existe um
monte de pessoas que ainda preferem fazer as coisas "à moda
antiga". Desta maneira, se um elo na cadeia de valor de um
determinado negócio insiste em fazer as coisas da maneira antiga, o
resto da cadeia ou terá que adotar isso ou pelo menos se adaptar ao
fato, diminuindo a eficácia do macro-processo como um todo. Como há
uma grande tendência nestes ambientes de alguns gerentes insistirem
em permanecer na chamada zona de conforto, os funcionários pensam
que é mais inteligente fazer as coisas da maneira antiga o tempo
todo, não tendo estímulos para mudar os seus hábitos também. Desta
forma, tudo fica na mesma situação e as novas tecnologias não estão
sendo utilizadas para alterar e melhorar as condições básicas para
as tomadas de decisões rápidas tendo como base o conhecimento e a
informação.
Há quatro elementos envolvidos na hipótese de mudanças destas
condições:
- Novas ferramentas - que podem ajudar os usuários finais
trabalharem de maneira diferente, mais inteligente, mais rápida,
utilizando-se de meios mais produtivos. Há uma abundância de
ferramentas modernas no mercado, que suportam todas as formas
modernas e integradas de trabalhar com e-mails, documentos,
conectividade móvel, permitindo o acesso em qualquer lugar e assim
suportando todas exigências que existem para apoiar
formas modernas de trabalho.
- Os usuários finais - que terão de aprender a usar os novos
sistemas em detalhes, e que persistentemente devem usá-los desde o
início. Para cada novo sistema que está sendo implementado em todo
o mundo, há pelo menos 10 novas razões dadas por usuários finais
argumentando que o seu negócio em particular ainda tem de ser
tratado da maneira antiga e não é possível usar todas as
funcionalidades preconizadas pelas novas maneiras de trabalhar,
propostas pelas novas tecnologias. A mudança deve ser permanente.
Estamos certos que, com o treinamento adequado os usuários finais
serão capazes de nos ajudar a conduzir a mudança de comportamento,
na medida em que perceberem os benefícios que terão em sair de suas
próprias zonas de conforto.
- Os tomadores de decisão terão que decidir que ferramentas usar,
como usá-las, e garantir que as ferramentas adequadas estão sendo
usadas para suportar as atividades e os processos de forma
adequada. A transição é sempre um desafio, mas se você pode salvar
apenas uma fração das 11 horas por empregado por semana, toda
semana de forma cumulativa, fica claro que este esforço vale a pena
ao longo prazo. Este é um dos principais desafios de qualquer
Governança.
- Por último, mas não menos importante, devemos nos questionar
sobre os paradigmas sob os quais a organização do trabalho,
principalmente sob a ótica ocidental, se formou. O processo de
produção em massa levou a tudo e a todos adotarem o raciocínio
cartesiano ao extremo e fomos todos formados nas escolas tracionais
a pensar como maquinas e, portanto, quase sempre agindo como
maquinas, como são as características principais em negócios ainda
voltados para a chamada era industrial.
Em negócios a "moda antiga" nada disso mudou muito nos últimos
anos, por isso não deve ser algo drástico uma possível a mudança de
volta para sistemas puramente transacionais - um grande elemento é
a facilidade de utilização dos sistemas antigos já existentes. Por
muito tempo, as ferramentas foram desenvolvidas para oferecer as
soluções técnicas e funcionais - mas agora onde há mais e mais
sistemas concorrentes para o mesmo mercado, os fornecedores estão
começando a mudar o foco para as interfaces com o usuário e
facilidade de uso de suas ferramentas, sendo uma das principais
vias para ganhar participação em um mercado com mais competidores e
menos capital de investimento em sistemas por parte de seus
clientes.
Os departamentos de TI não estão mais investindo em sistemas de
TI sem pedir os usuários finais para participar do processo de
seleção. Na medida em que os critérios técnicos sejam cumpridos,
quem propicia a melhor solução do ponto de vista dos usuários
finais, vai ganhar o cliente.
Existe um grande número de empresas "a moda antiga" que são
geridas pensando somente pelo viés técnico, mas com o tempo elas
vão também começar a ver os benefícios das novas interfaces de
usuário e formas de trabalho mais colaborativo e menos
hierarquizado. É como uma pessoa que passou toda a vida usando de
maneira predominante um lado do cérebro e de repente percebe que
utilizar o outro lado vai ajudar a resolver muita coisa que
permanecia sem solução.
Na medida em que formos ganhando terreno neste enfoque é sempre
bom analisar as lições aprendidas e verificar se que o que
realmente estamos buscando é inovar para viver melhor, já que quem
não tem tempo para nada, apenas sobrevive, não? Qual a
diferença entre viver e sobreviver?
Depende de cada um o conceito de viver e sobreviver, mas uma
coisa fica clara - nos tempos que estamos não dá mais para ter
ideias e ações que levem somente em consideração um aspecto
específico sem levar em consideração as implicações com todo
ecossistema, já que esta tudo cada vez mais interligado. Quem
apenas sobrevive não tem controle sobre seu próprio tempo.
Parodiando a música - Está na "roda-viva".
Novos tempos, novas visões, nos obrigando utilizar palavras
antigas e dar-lhes outras denotações, como a palavra holísmo, por
exemplo, que em grego queria dizer algo específico relativo à
natureza e agora nós há utilizamos para dizer que determinada coisa
é integrada, principalmente equilibrada entre os aspectos puramente
racionais e os aspectos espaciais e relacionados com a percepção e
sentimentos. Afinal não dá para fazer análise cartesiana de
sentimentos, assim como tentar buscar uma solução partindo-se do
mesmo modelo mental de quem está inserido no problema, também fica
muito difícil.
Dust as we are, the immortal spirit
grows
Like harmony in music; there is a
dark
Inscrutable workmanship that
reconciles
Discordant elements, makes them
cling together
In one society.
Wordsworth (The Prelude, 1850)
"Poeira como nós, o espírito imortal
cresce
Como harmonia na música, há um
escuro
Obra inescrutável que concilia
Elementos discordantes, torna-se
complementares
Em uma sociedade.
Wordsworth (The Prelude, 1850)
Este antigo poema faz parte do prefácio que Michael C. Jackson
escolheu para o seu livro "Systems Thinking: Creative Holism for
Managers" cujo foco é exatamente lançar uma "ponte" entre a visão
sistêmica-cartesiana e a visão chamada holística, base de um
pensamento voltado para a inovação e criatividade nas organizações.
Assim, gradativamente o que está sendo substituído em virtude da
dinâmica do ambiente é o pensamento linear e o raciocínio
seqüencial, baluartes do paradigma newtoniano cartesiano, pelo
pensamento não-linear ou cíclico, haja vista, que o princípio de
causa e efeito puro e simples está também caminhando para um
relativo questionamento na medida em que leva para um reducionismo
e consequentemente uma possível miopia. O raciocínio seqüencial é
típico do mecanicismo onde intuição, sensibilidade e criatividade,
componentes da visão holística, não têm qualquer importância. É por
isso mesmo que razão e objetividade agora dão espaço para intuição
e subjetividade, aflorando assim, a criatividade e a inovação
do processo de pensar. Nota-se que não se abandona pura e
simplesmente este tipo de análise, mas cria-se mais riqueza quando
além desta visão também procuramos fazer uma crítica a razão pura,
assim como já há bastante tempo assim o fez Immanuel Kant.
O paradigma cartesiano preconiza que todos os fenômenos
poderiam ser entendidos isoladamente, portanto a preocupação com as
partes é fundamental. Ainda hoje essa forma de pensar funciona
muito bem em muitos casos, mas está se percebendo que há
ineficácia e inconsistência na exploração dos elementos
totais. Grande parte desta nova visão se deu diante da descoberta
de novas fronteiras na Física e na Psicologia principalmente,
onde o todo é mais importante que as partes e em nenhum
instante o todo pode ser interpretado dividindo-o em partes
menores, pois cada parte formará um novo todo assim que for
decomposta.
Em consoante a esta visão percebe-se que os fenômenos não
podem ser isolados do seu meio para serem estudados, porquanto há
uma interconexão entre todos os elementos. No paradigma
reducionista fragmentado, os eventos podem ser descritos como uma
máquina, já na abordagem holística os fenômenos são descritos sobre
o ponto de vista orgânico da natureza.
Para alguns as organizações são concebidas como sistemas vivos,
que existem em um ambiente amplo, da qual depende a satisfação das
suas necessidades, portanto a teoria das organizações incorpora
elementos da biologia na qual as distinções e relações entre
moléculas, células, organismos complexos, espécies e ecologia são
feitos em paralelo com os entes organizacionais, indivíduos,
equipes, organizações, populações de organizações e a sua própria
ecologia social.
Fritjof Capra, já em 1983 em suas obras nos chamava a atenção
sobre as transposições de paradigmas, ao esclarecer que surge um
quadro do mundo material não como uma máquina composta de uma
infinidade de objetos, mas como um todo harmonioso e orgânico cujas
partes são determinadas pelas suas correlações. Veja que neste
contexto temos todas as definições conceituais de sistemas e alguns
autores como Peter Senge, por exemplo, interpretam o campo
organizacional partindo-se da metáfora dos sistemas vivos.
Entretanto, é importante frisar que o conceito do
paradigma holístico é algo mais amplo que a concepção de sistema.
Ferreira, Reis & Pereira no livro Gestão Empresarial: De
Taylor aos Nossos Dias explicam que a visão holística pode ser
considerada como sendo a maneira de perceber a realidade e a
abordagem sistêmica como sendo primeiro nível de operacionalização
desta visão. Assim, a busca de uma sabedoria sistêmica tem a sua
complementariedade na busca por uma visão holística.
O problema do tempo, foco deste post,passa por uma
mudança radical de visão considerando-se que sob a ótica do todo
não há a linearidade do tempo e sim a percepção de comportamentos
cíclicos e a constante transformação de tudo pela interação
multidimensional. Desta maneira, estamos sempre fazendo parte
de um todo, resta saber se de forma alinhada ou não.
Sempre que abrimos uma nova porta,
um novo Mundo haverá!
Resta saber qual é o momento e a qual chave devemos
recorrer,
Pois cada porta se abrirá
Quando isto ocorrer!
Cada momento é único,
Como única é a existência de cada um de nós,
Quando damos um sentido para a nossa Vida
que dê o valor certo para as coisas certas no momento certo.
O que leva a você a pensar sobre as frases em forma de poema
acima?
Cada resposta será única, pois cada um de nós vive um momento
único e, portanto um determinado modelo mental, mas fica claro que
neste contexto não ha atrasos ou falta de tempo, mas a consciência
do universo que há em cada momento se conseguisse vivê-lo na
plenitude total, o que de certo modo é o ambiente mais propício
para a criação.
Sob esta ótica necessariamente temos que nos questionar a
permanente "falta de tempo", já que quando estamos atuando de forma
alinhada com o todo, desde a visão micro até a visão macro o tempo
não é uma armadilha já que tudo acontece no momento em que deveria
acontecer e se você não tem tempo, talvez tenha que se questionar
até que ponto você está consciente sob todos os aspectos de sua
vida com os quais está interagindo. Não somente os aparentes, mas
principalmente os subliminares.
A organização cujas pessoas não tem capacidade ou ambiente
propício para o aprendizado, seja da forma tradicional, mas
principalmente de forma colaborativa e inspiracional estão fadadas
a perderem gradativamente o espaço para a concorrência ou novos
entrantes no mercado com novas propostas de valor para os mesmos
segmentos de clientes.
Resta saber agora quais são os indicadores e as novas atividades
que devemos desenvolver levando-se em consideração esta ótica, pois
temos que pensar no todo a partir do indivíduo.
Referências e fontes de inspiração:
Gestão Empresarial: De Taylor aos Nossos Dias
Fritjof Capra
Peter Senge - A quinta disciplina
Immanuel Kant - Crítica a Razão Pura
Michael C. Jackson - Systems Thinking: Creative Holism for
Managers
http://neptunesguide.com/
ROSANA ROSA SILVEIRA - DIRETRIZES PARA MITIGAR AS BARREIRAS À
IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO EM ORGANIZAÇÕES