"Se precisar de alguém para uma posição de tomar decisões pela
empresa, uma pessoa que diz 'está calor' deve ser melhor do que
quem fala 'eu acho que está calor'." James Pennebaker
A DESCOBERTA:
A forma como você
usa palavras funcionais - os
pronomes
, artigos, preposições, conjunções e verbos auxiliares, que formam
o tecido conjuntivo da linguagem - proporciona insights sobre sua
honestidade, estabilidade e autopercepção.
O ESTUDO:
Nos anos 1990,
James Pennebaker participou do desenvolvimento de um programa de
computador que contava e categorizava palavras em textos,
diferenciando termos de conteúdo - que transmitem significado - de
palavras funcionais. Após analisar 400 mil textos - incluindo
ensaios de estudantes universitários, mensagens instantâneas entre
namorados, discussões em chats e transcrições de coletivas de
imprensa -, ele concluiu que palavras funcionais são chaves
importantes para o estado psicológico das pessoas, e revelam muito
mais do que os termos de conteúdo.
O DESAFIO:
Será que palavras
aparentemente insignificantes realmente podem ser uma janela para a
alma? A seguir, o professor Pennebaker defende o seu
estudo.
Quando nós começamos a analisar a forma como as pessoas falam e
escrevem, não esperávamos resultados como esses. Por exemplo,
quando comparamos poemas de escritores que cometeram suicídio com
poemas daqueles que não se mataram, pensávamos que encontraríamos
mais termos de conteúdo negativo e sombrio na poesia dos suicidas.
Mas não encontramos.
Em vez disso, descobrimos diferenças significativas na frequência
de pronomes como "eu". Estudo após estudo, continuamos encontrando
o mesmo tipo de coisa. Quando analisamos transcrições militares,
fomos capazes de dizer a patente do autor com base em padrões do
texto - e, mais uma vez, foram os pronomes, artigos, conjunções e
outros termos meramente funcionais que fizeram a diferença, não as
palavras com conteúdo.
Por que as palavras funcionais são tão importantes?
Em inglês, há cerca de 500 termos funcionais, e 150 deles são bem
comuns. Palavras de conteúdo - substantivos, verbos, adjetivos e a
maioria dos advérbios - transmitem o teor da comunicação. Elas
respondem pela forma como nós expressamos as nossas ideias. Já as
palavras funcionais ajudam a moldar e criar atalhos para a
linguagem. Portanto as pessoas precisam de habilidades sociais para
usar e entender palavras funcionais, que são processadas na nossa
mente de forma diferente. Elas são a chave para compreender os
relacionamentos que existem entre interlocutores. Quando analisamos
o uso que as pessoas fazem desses termos, obtemos uma
percepção do estado emocional dessas pessoas e da sua
personalidade, além da sua idade e classe social.
Uma frase simples, com força no pronome: "eu não acho que eu
acredite nisso"
Com uma afirmação dessas, você revela algo sobre você mesmo. Por
que dizer "eu não acho que eu acredite nisso" em vez de "eu não
acredito nisso" ou até "isso é ridículo"? Os pronomes nos mostram
onde as pessoas colocam o foco da atenção delas. Se alguém usa o
pronome "eu", é um sinal de foco em si mesmo. Digamos que alguém
pergunte "como está o tempo lá fora?". Você poderia responder "está
calor" ou "eu acho que está calor". O "eu acho" pode
parecer insignificante, mas vem cheio de significado. Mostra que
você está mais focado em você mesmo. Pessoas deprimidas usam o
pronome "eu" com muito mais frequência do que pessoas
emocionalmente estáveis. Pessoas em posição inferior na hierarquia
também usam "eu" muito mais frequentemente.
É possível dizer que alguém está mentindo pelo uso de palavras
funcionais?
Sim. Ao mentir, a pessoa tende a usar mais o pronome "nós" ou
frases em que não use a primeira pessoa do singular. Em vez de
dizer "eu não peguei os seus livros", o mentiroso tende a dizer
"isso não é o tipo de coisa que alguém íntegro faria". Quando
mentem, as pessoas também usam palavras de exclusão, como "sem" ou
"mas", e negações, como "não", "ninguém" e "nunca". Analisamos
transcrições de testemunhos em tribunais, e as diferenças nos
padrões de fala ficam realmente claras.
As palavras funcionais são importantes, mas não tão significativas
para a criação da arquitetura geral
Você pode até pensar em palavras funcionais como se fossem unhas.
Parece normal não prestar muita atenção a elas. Se você digitar uma
frase no Google, os algoritmos não costumam levar palavras
funcionais em consideração, porque estão interessados mesmo é no
conteúdo. Mas essas palavras comunicam sutilezas importantes - "um
anel" em vez de "aquele anel". Em línguas estrangeiras, palavras
funcionais muitas vezes transmitem o status de uma pessoa em
relação a outra.
Em uma entrevista de emprego, o que o uso dessas palavras pode
dizer sobre o candidato?
É quase impossível perceber as diferenças naturalmente - daí o
estudo utilizar transcrições e análise de computador. Pense numa
pessoa deprimida. "Eu" tende a responder por 6,5% das palavras que
ela usa, contra 4% para alguém
sem depressão. Há uma enorme diferença do ponto de vista
estatístico, mas nossos ouvidos não conseguem notar. Porém,
hipoteticamente, se eu estivesse numa entrevista de emprego,
prestaria atenção em como o candidato se refere aos colegas do seu
último trabalho. Ele se refere aos colegas como "nós" ou "eles"?
Isso pode lhe dar uma boa noção do tipo de relacionamento que ele
tinha com o grupo. E se você precisar de alguém para uma posição de
tomar decisões pela empresa, uma pessoa que diz "está calor" deve
ser um candidato melhor do que aquela que fala "eu acho que está
calor".
Como as pessoas reagem à análise de como falam?
Fiz isso usando minha própria fala, e fiquei realmente surpreso.
Usei o software em tudo o que escrevi - até em e-mails. Também
desenvolvi um gravador que as pessoas pudessem usar para isso. Eu o
deixava ligado por 30 segundos em intervalos de 12 minutos, para
capturar frações das falas do dia a dia. Experimentei em mim mesmo.
Quando analisei minha fala, chamou-me a atenção como eu falava de
forma diferente ao me dirigir a meu filho, que tinha 12 anos na
época. Com a minha filha e a minha esposa, minha linguagem era
muito mais informal e pessoal. Com meu filho, era muito mais cool e
afetada. Percebi que eu me retraía na frente dele - eu não estava
psicologicamente presente. Isso aconteceu justamente durante um
período de certa tensão no nosso relacionamento. Ele era um
adolescente típico e estava se desapegando um pouco além da conta,
e eu respondia sendo cool e afetado, da forma estúpida como os
machos fazem quando estamos incomodados com alguma coisa. Quando eu
percebi isso, tentei me tornar mais humano, emotivo e honesto com
ele.
Há diferenças de gênero quando usamos palavras
funcionais?
A maioria das pessoas acha que os homens usam mais o "eu", porque
são mais narcisistas e convencidos. Mas, ao longo dos estudos e das
culturas, descobrimos que as mulheres usam mais o "eu", o "mim" e o
"meu". As mulheres têm uma atenção maior sobre si e uma percepção
melhor de seu estado interno. Os homens usam mais artigos: "o",
"a", "um"… Isso significa que homens falam mais sobre objetos e
coisas. Você usa artigos quando está se referindo a objetos
concretos, porque os artigos precedem substantivos concretos. As
mulheres usam mais pronomes na terceira pessoa - "ele", "ela",
"eles" - porque falam mais sobre gente e relacionamentos, e são
melhores em lidar com isso. E, de várias maneiras, relacionamentos
são mais complexos.
James W. Pennebaker é pesquisador e chefe do departamento de
Psicologia
da Universidade do Texas. É autor de
The Secret Life of Pronouns - What Our Words Say About Us
.
Artigo da Harvard Business Review
Tradução - Alexandre Carvalho dos Santos
fonte:
http://www.labssj.com.br/posts/uso-dos-pronomes-revela-a-sua-personalidade?goback=%2Egde_3893997_member_272689921#%21