O Ubaldo, que via longe, me perguntou:
- Estou tão cansado de tanta cegueira, quero deixar de ser
hipótese! Ouvi dizer que quem sabe faz a hora, não espera
acontecer. Será verdade?
Retruquei:
- Fazer é agir. Agora - é ação sem tempo e lugar, sem
pensamento, sem julgamento - eis ai a Magia! Todo ato ou é sagrado
ou é "maladicionado", mas nunca passa despercebido pela natureza,
qualquer que seja a sua dimensão. Se você pensa, você está
"causando" para você, se você esta agindo você esta causando para o
Mundo tendo você como protagonista, mas em ambos os casos você está
intimamente ligado aos efeitos, embora frequentemente culpe os
outros pelos insucessos e levante templos ao seu Ego pelos
sucessos.
O Ubaldo, que via longe, me questionou:
- Mas isto também não deixa de ser hipótese! Como posso saber se
é verdade?
Retruquei:
- Mas se você não agir como poderá sentir dor, como pode
materializar o Amor?! Como posso saber se é verdade senão por
sentir a realidade dos sentimentos?
Veja que não é o Arco que lança a Flecha, mas o contrário, a
Flecha é que se liberta do Arco para atingir o seu Amor, que é o
seu destino final. A natureza é de certo modo um orgasmo e todos
nós vivemos estas Divinas Comédias cotidianas. Nós é que as
transformamos em tragédias, que não são atributos divinos e talvez
por isso as Putas descritas pelo
Gabriel nos deixaram suas
memorias tristes. Não há graça na Poesia que não tem um
Canto ou uma Ode, nela
inserida. Uma poesia sempre tem um ato heroico, seja de maneira
subliminar ou não. Senão pode ser um tratado, uma metodologia.
O Ubaldo, que via longe, me questionou:
- Mas o que você me diz do Cubo. Por
acaso não é humano? Não existe esta forma perfeita na Natureza.
Será então a pedra cubica uma obra não humana?
Diante de tão deslumbrante afirmação parei e comecei a refletir
sobre a forma perfeita, afinal o que nos deu este conceito estético
da perfeição, pois tal qual a Beleza, são assim sob o ponto de
vista subjetivo, portanto humano. Por mais que reflito não me livro
da praga Antropomórfica. Como Midas, tudo que toco se transforma.
Talvez porque o pensamento para tudo dê forma.
É isso!
Comecei preparar a resposta. Assim, para criar um ambiente ou
uma ideia que poderia concretizar tudo, imaginei criar uma figura
de linguagem, todavia pensei:
Será que para o Ubaldo tudo não é um anacoluto
intransponível?
Decidi apelar para uma criatura humana e ao mesmo tempo divina,
afinal existem tantas na mitologia. Posso quase afirmar que para o
Ubaldo, em seu mundo nunca poderia existir Oxóssi.
Arrisco até dizer que para Ubaldo não existia o verdadeiro
Mar, pois seu simbolismo é o Infinito. Pensei em falar com todas as
letras para o Ubaldo que Oxóssi sempre será eterno, pois vive o
Presente e de certo modo é como se fosse filho do Mar com a
Terra.
Mas isto não é resposta diante do Cubo. O Cubo é uma forma, se
humana ou não já não vem mais ao caso. Que adianta perguntar
sobre a origem da Forma e a sua contrapartida - a Força. Será
porventura que Jaquim e
Boaz lhe são conhecidas?
Pela sua ótica - dizendo que o Cubo é perfeito porque tem todos
os lados iguais e retos - como poderei criar Esferas? A partir dos
Cubos criamos outros cubos ou qualquer outra forma quadrada e assim
passamos a viver nos cubículos de nossas fantasias, fingindo que
sabemos o que é Liberdade.
Será que valeria a pena pedir para o Ubaldo imaginar que o Cubo
tem 6 lados e se ele estiver dentro de um poderá aferir que existe
mais
6 dimensões além daquela em que ele vive?
Senão poder criar Esferas como então poderei migrar para o Alto
já que dizem que o Absoluto somente existe em esferas
superiores?
Novamente me vejo no inferno metafórico a partir da praga
Antropomórfica.
Cai em um silêncio absoluto e um tempo quase eterno encobriu os
Céus com seus mantos.
Adormeci e foram-se quatrocentos e vinte vezes estações, cada
uma com seu Talento.
Quando acordei, em um estalo afirmei:
- Ubaldo, seja como Ulisses!
Explore o mundo que nunca ninguém tenha visto!
Vá além das Colunas
de Hércules!
Afinal
você já está condenado à dualidade desde que nasceu.