Assita o Video: Elgin
Park from Animal on
Vimeo.
Fotos: https://www.flickr.com/photos/24796741@N05/
Quando menino, crescendo em Sewickley, bairro operário perto da
Pensilvânia, Michael Paul Smith era muito tímido e passava quase
todo o tempo desenhando e construindo miniaturas. Ele adorava
trabalhos manuais e se alegrava com a criatividade e a curiosidade
envolvidas.
Após o ensino médio, trabalhou como instalador de papel de
parede, pintor de paredes, carteiro, designer gráfico num jornal e
ilustrador de livros didáticos. Um infarto aos 33 anos, quando era
diretor de arte de uma agência de publicidade, levou-o de volta à
verdadeira vocação, e ele passou a trabalhar fazendo maquetes em
horário integral para um escritório de arquitetura em Boston.
Certa noite, fitando um grupo de maquetes em sua mesa, ele
percebeu que poderia utilizar sua habilidade de maquetista
profissional, a imensa coleção de miniaturas de automóveis, o amor
ao passado e o conhecimento adquirido ao longo de décadas
colecionando e estudando o século 20 para criar uma cidade em
miniatura, nos mínimos detalhes.
Em meados da década de 1990, ele começou a projetar os prédios
com base em suas lembranças da Sewickley dos anos 1950. Ele os
construiu, inclusive com os interiores, na mesma escala de 1/24 dos
carrinhos detalhadíssimos que colecionava.
Com o tempo, criou dez prédios, que arrumou sobre uma mesa numa
cena de rua, mais as miniaturas dos carros. "Certa manhã, o sol
entrou pela janela e iluminou a cena", disse ele. "Foi tão
impressionante que não resisti e tirei uma foto. Foi então que a
ficha caiu."
Ele passou a fazer experiências com a iluminação, inclusive nos
interiores, para criar cenas noturnas. "Por volta de 2003 ficou
claro que algo de bom estava acontecendo."
Ele deu à sua minicidade o nome fictício de Elgin Park. Em 2012,
publicou o livro Elgin Park: An Ideal American Town (Elgin Park:
uma cidade americana ideal).
Smith explica que os prédios não são "recriações exatas, mas
capturam o clima" da cidade de sua infância. Ele posiciona as
maquetes diante de ambientes naturais escolhidos com cuidado, "que
estão ficando mais difíceis de encontrar porque a maioria dos
prédios mais antigos foi demolida". Em seguida, ele alinha o
horizonte do primeiro plano com o do fundo a fim de criar uma falsa
perspectiva e pega a câmera. O resultado é de um realismo
espantoso.
Quando surge inspiração para um projeto, "começo a olhar minhas
miniaturas de carros e caminhões", diz ele. "Que época ilustrará
melhor a cena? Que hora do dia ou estação do ano? E o mais
importante: que história quero contar?" O processo pode levar uma
hora ou vários dias. Cada estrutura parte de uma série de esboços.
Se o prédio for muito incomum, vai se destacar demais na
fotografia, explica ele, que então busca um estilo que seja o
protótipo de determinada época.
Smith não tem ateliê nem ferramentas especiais; trabalha na mesa
da cozinha e utiliza lâmpadas de 40 ou 60 watts para iluminar o
interior das maquetes. Não há equipamento fotográfico caro, apenas
uma Canon usada de 150 dólares. E o mais incrível é que ele não faz
retoques digitais. E afirma que é essa simplicidade que torna seu
trabalho tão bem-sucedido. "Se não der para ser convincente, nem
vale a pena fazer." Smith raramente leva mais de uma hora para
fotografar uma cena.
Nos últimos anos, seu trabalho vem ganhando mais reconhecimento.
Para uma exposição em Nova York, pediram-lhe que criasse uma peça
nova. Ele decidiu construir a casa onde cresceu.
"Recriar o lar da infância é a melhor terapia que se pode
imaginar", explica. "As lembranças, tanto as boas como as ruins,
fluem sem nenhuma válvula de segurança. O projeto levou quatro
meses, e acho que, até terminar, lidei com muitos problemas
psicológicos que estavam enterrados."
E assim Smith fecha um círculo. Ou, talvez, para aqueles que se
veem refletidos em seu trabalho, ele inicia um novo.